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Trazer a morte à vida com o rigor e Amor que a Vida merece


Hoje quero falar-vos de dois livros que li, à pouco tempo, e que abordam o tema da morte. Um fala sobre a morte animal. O outro foi escrito por uma doula formada em Nova York e que foi traduzido para a língua portuguesa, do espanhol, muito recentemente.

Não pretendo descredibilizar e desvalorizar o objetivo dos mesmos. Sinto ser muito importante haverem cada vez mais conteúdos sobre estas temáticas e, é importante referir, também, que muito do contento destes livros que exponho é de grande valor. No entanto, existem algumas afirmações muito pouco corretas e que gostaria de trazer à reflexão de todos. Posso inclusivamente afirmar, que entrei em contato com uma das autoras para podermos refletir em conjunto sobre este tema e as minhas preocupações. Infelizmente, até à data, ainda não tive resposta. Ainda não perdi a esperança.

Este é um tópico que estudo, desenvolvo e pratico há mais de 20 anos. Trazer a morte à vida é a minha missão. Faz parte das minhas células. Da minha alma. Do meu coração. É um assunto, para mim, sensível pela excelência na prática de vida pela qual me faço reger, e que levo aos outros que acompanho, enquanto pessoa, enfermeira e doula. Pelo ativismo ecológico profundo e pela lembrança de que fazemos parte integrante da vida como um todo. Somos células do cosmos onde tudo é movimento e logo Vida que respira e expira. Não sou perfeita. Procuro crescer a cada dia com todas as relações, diariamente. Penso ser uma pessoa humilde e que se faz transformar, através do movimento da própria vida, à qual pertenço. Também escrevi um livro, com uma equipa de apoio excecional, e que está a fazer agora um ano de existência. Todo o feedback é muito bem vindo para que possamos crescer em conjunto. Por isso, se alguém estiver em desacordo com alguma coisa que escrevi, e escrevo, as divergências são muito bem vindas.





Passo a transcrever apenas algumas linhas do que li e com reflexões minhas após:


“(…) a dor faz com que o coração pareça estar cheio de chumbo. Mas acho que isto faz sentido, pois o luto é o oposto do Amor.(…)”


- O Luto não é o oposto do Amor.


“O meu marido chegou e fomos todos transferidos para o quarto privado. Eles permitiram-nos um tempo a sós com a Belle, mas ela não estava a oxigénio naquele momento, por isso era-lhe difícil respirar. (…)”

“Ficámos deitadas juntas no chão da sala a noite toda. Eu segurei-lhe a pata. Às vezes ela ficava aflita, mas irei poupar o leitor aos detalhes feios, à agonia de ver os órgãos de um ente querido deixarem de funcionar.


Uma coisa é a falta de ar, onde é urgente atuar e é má prática não o fazer (também não é apenas o oxigénio que vai ajudar se este sintoma existir) e outra são os sinais e sintomas de últimos dias e horas de vida (UDV). Nestes existem alterações do padrão respiratório NATURAIS e FISIOLÓGICOS.

Neste livro aborda-se a eutanásia animal como alívio do sofrimento no final da vida e associa-se sofrimento aos sinais e sintomas dos UDV. A medicina veterinária também não consegue dar o suporte emocional e teórico/cientifico, tão importante, sobre o que acontece nesta fase.

A morte animal não difere da humana.

Associar o final da vida a “detalhes feios” é um sintoma gravíssimo da forma como se vive a morte. Do capitalismo e colonialismo vigentes. É urgente pensarmos sobre isto e agirmos em conformidade.


“Quando um paciente recebe cuidados paliativos, encontra-se já em estado terminal, (…)”


- Não podia estar mais errado. As pessoas com necessidades paliativas não devem nunca ser encaminhadas para esta especialidade da medicina na sua fase final. Infelizmente é frequente acontecer. É o mesmo que dizer que uma grávida só deve receber apoio médico quando se iniciarem as contrações., sem todo o apoio da pré-concepção e gravidez.


“Por vezes, começa-se a produzir um ruído rouco nos pulmões e na garganta porque a respiração começa a ser difícil.”


- A respiração muda, sim. Mas não é correto dizer que é “difícil”. Este termo é sinónimo de esforço o que nos induz a acreditar que a pessoa luta por ar. Como já referi acima, existem alterações naturais do padrão respiratório. Não uma luta entre a vida e a morte.


Poderia citar mais algumas frases. Deixo apenas estas. Que nos ajudem a refletir sobre o Amor que queremos trazer a nós e ao mundo. Só depende de nós.


Boas leituras.



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