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Quando me transformei em bolota

Exercício de desidentificação com a forma


Uma das passagens mais difíceis da nossa vida é o largar do nosso corpo físico. É conseguirmos largar o magnífico corpo que nos deu colo. Por vezes, é a nossa identificação com ele, com a sua forma, que nos dificulta a passagem.

Um pequeno exercício que podem fazer é aprender a humildade de não ter nome e logo ser Tudo.

Querem partilhar as vossas histórias de desidentificação?

Excelente para fazer com crianças.


Hoje acordei e os meus olhos viram uma paisagem diferente.

Quando digo olhos acho que não o posso dizer literalmente, porque não os tinha efetivamente. Pelo menos os olhos da perceção humana que sempre tive. Eram outro tipo de olhos.

Talvez devesse dizer que: acordei e a minha paisagem era diferente.

O meu corpo não era aquele que eu conhecia. Não tinha braços para me agarrar, pernas para fugir, boca para falar ou gritar, ouvidos para ouvir. O meu coração também não era o meu. Os meus pulmões não respiravam só para mim. Sentia as minhas veias, que não o eram, percorrer todos os meus caminhos internos e dar-me alimento. Caminhos que se ligavam a outros, outras estradas, outras veias, que também eu sentia como meus. Sabia que não estava só. Como redes de um telefone, também me passavam informações. Comunicavam noutra língua ainda estranha mas que, no entanto, inesperadamente sentia e reconhecia. Não ouvia mas sentia a informação. De onde vinha?

O meu corpo movia-se com a brisa, como num balouço pendurado numa árvore. A corda que nos unia emagrecia o seu abraço cansado. Sabia que um dia iria ser soprada pelo vento e cair. Deixaria de ser criança, depois de passar por este ritual de passagem. O solo aguardava a minha próxima jornada.

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