Prazer e Morte.
Parecem duas palavras antagónicas, certo?
Perante a formatação e convenção social, familiar, educacional, institucional, cultural, religiosa, individual, etc, em que vivemos, temos este registo no corpo.
Prazer e morte não são palavras vividas num mesmo momento. E se eu vos disser que não tem que ser assim? Que não é assim. O que precisamos fazer para que estas palavras se conjuguem numa mesma frase corpal?
Esta semana fiz um pequeno exercício, um “prazer de casa”, como a minha professora de SE (Liane) gosta de dizer, a convite de Andreas Weber, numa formação sobre a ecologia do amor. Este prazer constou em escolher algo que me atrai e perguntar-lhe: “O que é que sabes sobre mim?”. As duas entidades escolhidas foram um livro e uma planta.
Num primeiro momento a minha perceção foi que a resposta que surgiu apenas refletia a minha perspetiva do “objeto” observado. Manifestava apenas o meu mundo interior e não a do outro. Através do outro vejo-me a mim própria, disse eu como habitualmente percecionava. Os diferentes “objetos” observados abrem portas para diferentes partes de mim e estes dois “objetos” em particular, abriram a mesma porta: preciso estar mais presente no momento. Sinto a necessidade de estar mais presente para a lentidão.
Um pouco mais tarde nesse mesmo dia e depois de deixar a resposta encontrar espaço dentro de mim, outra questão se colocou: será que aquilo que eu chamei de “a minha perspetiva interior” é apenas a minha? Não será um reflexo da terceira entidade que surge em todas as relações? Existe o eu, o outro eu, e um terceiro elemento que nasce deste encontro. Assim sendo, havendo uma relação não tem que haver comunicação? De que forma os “objetos” do meu campo de atração comunicam comigo? A resposta foi muito clara: através do meu sentir. Mas para que esta comunicação seja transparente como a água de um rio selvagem é importante que não existam desvios interiores que bloqueiem estas mensagens. Tudo comunica. Se o rio estiver cheio de bloqueios no seu curso natural a comunicação sai enviesada, distorcida. Pelo contrário, se eu retirar o entulho que impede o fluxo natural do meu rio, a mensagem é luzidia. Com este insight o meu corpo expandiu e sorriu de prazer.
Não há prazer e expansão num rio bloqueado.
“Feeling and meaning are the ways in which our entanglement with everything in the world appears to us. Lived experience is the experience of entanglement from the inside.”
(Deep Physics, Andrea Webwe).
A planta e o livro comunicam comigo através do que sinto. Como tudo o resto.
Se não há prazer existe bloqueio à vida. Existe bloqueio à entrega à vida.
Tudo na vida é sobre prazer e erotismo. Tudo é atração e necessidade de encontro. Movimento. Fusão. Não é diferente na morte, que faz parte da continuidade e fusão com o movimento da rede da vida. Para gerar uma criança um óvulo fundiu-se com o espermatozoide. A morte de duas células gerou uma multidão de vida que se rejubila de prazer. Prazer na vida. Prazer na morte.
Para que a comunicação se estabeleça com clareza temos que retirar os véus da formatação que nos impedem de sentir e ver, através de dentro, quem somos e o Todo do qual fazemos parte.
Precisamos desenvolver a capacidade de sentir o corpo. De nos abrirmos às emoções e mundo de memórias que nele habitam e que constituem um Universo imenso. Precisamos desenvolver a comunicação não verbal e visceral. Re-ajustar os caminhos do nosso sistema nervoso para que ele se alinhe com o sistema nervoso do Universo, a Rede da Vida.
O prazer da morte gera vida e ainda mais prazer.
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