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A Ilusão da Perfeição

Ainda sobre o Ser Vulnerável, quando vamos pesquisar sobre esta palavra encontramos como sinónimos: ser derrotável, frágil, que tem poucas defesas, indefeso, magoável, atacável, debilitado, indefeso. Então aquilo que fazemos é protegermo-nos e escondermos aquilo que realmente somos. Temos medo de assumirmos as nossas emoções, e em especial a zanga porque nos é ensinado a não o expressar, como se isso fosse um sentimento menos válido e precioso: Temos medo que o outro nos veja vulneráveis, temos medo do conflito e medo de não sermos aceites, medo da rejeição, medo de sentir vergonha, medo de não ser suficiente, medo de não sermos perfeitos. A culpa é um dos sentimentos, que também, nos atravessa o corpo e o espírito, como se tudo aquilo que fazemos e dizemos, a cada momento, tivesse que ter uma escala na medida da perfeição social. Deveríamos atender à “perfeição” da natureza que é naturalmente imperfeita.

O que é a perfeição? O dicionário diz que: “Caracteriza um ser ideal que reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito, e designa uma circunstância que não possa ser melhorada.”

Todos os seres humanos são naturalmente “imperfeitos”. Todos precisamos de ar para respirar. Todos precisamos de água e alimento para beber. Todos precisamos de relação e toque. Todos fazemos cocó. E o cocó é precioso. Experimentem não o fazer durante uns dias.

As nossas imperfeições são o espaço da nossa singularidade e o espaço que nos aproxima dos outros seres humanos. É o espaço que nos aproxima das relações e dos espelhos que somos um dos outros. É o espaço e a ponte de ligação da grandiosa rede universal da qual fazemos parte. Observem o mundo natural e todos os espaços de interdependência que aí existem, não pelo rótulo da imperfeição mas pelo precioso e necessário estabelecer da Relação. É o espaço da humildade, da compaixão, da aprendizagem e crescimento.


Nas palavras do Xamã Durek sobre a sombra, este espaço que tentamos esconder dos outros onde as nossas imperfeições também estão: “É um tesouro de autoconhecimento, preparadíssima para dançar connosco assim que desejarmos. Sabe tudo sobre nós e pode mostrar-nos o que precisamos ver. (…) A sombra não partilha a necessidade humana de ser amada, de ser apreciada e de se sentir segura, porque é a projeção da inteligência de luz pura, a qual, por si só, é segura. Por isso, não disfarça, diz-te as coisas como elas são, não se inibe, porque te ama incondicionalmente, não tem medo de ferir os teus sentimentos ou que te zangues por dizer o que não queres ouvir.(…) É a parte do teu ser que é luz e que guarda todas as coisas sobre as quais ainda não te responsabilizaste com amor incondicional e aceitação.”

Então a questão que coloco é: O que ainda escondes de ti ao outro? Quais são as tuas “imperfeições” e como é que as podes usar para assumires totalmente quem És e te trazeres completo ao Mundo. Para te trazeres inteiro às relações.


Nas palavras de Bruno Missurino: “Acho bonito quando alguém nos protege da tempestade, mas acho do caralho quem dança connosco sob ela.” Acrescento: sem criticar, sem julgar. Quando conseguirmos abraçar as nossas imperfeições iremos conseguir fazê-lo muito melhor com o outro. Iremos conseguir ver o conflito e as divergências como oportunidades de criação e transformação. Iremos conseguir dançar juntos nas nossas imperfeições e criar um mundo verdadeiramente e naturalmente mais humano.



Mergulhemos e dancemos com as nossas sombras e imperfeições.


Photo by: Raiz de Portugal

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