
Se fizermos uma pesquisa rápida pela internet iremos ver que à palavra sofrimento estão associadas como sinónimo as palavras aflição, desgosto, angústia, preocupação, amargura, tormento, ansiedade, suplício, tristeza, martírio, pesar, consternação, dissabor, calvário, provação, e também a paixão. Muitas outras podem surgir no teu vocabulário. Está associado a todas as coisas que o nosso cérebro reconhece como negativas, sejam emocionais ou físicas. É um fenómeno complexo que abarca muitos sentires e que por isso, sempre que mencionado, acredito que precisa ser desconstruído e despido como as camadas de uma cebola. Quando alguém nos diz “estou a sofrer”, procurar devolver com a questão, podes explicar um pouco melhor o que queres dizer com isso? O que sente o teu corpo? Se for difícil estar no corpo, podemos apenas perguntar, o que sentes?
A morte é vista como sinónima de sofrimento. Seja porque está associada, ilusoriamente, a causadora de dor física, seja porque nos impulsiona a caminhar muitos lutos, com tudo o que eles nos trazem e que não aprendemos a reconhecer, seja porque não aprendemos a nos ver como matéria impermanente e por isso estamos num processo de desconstrução e construção permanentes. Somos sementes e frutos das relações e todas as interações, a todo o momento. Permeáveis ao processo osmótico do corpo da vida do qual fazemos parte. Todas as tentativas que poderemos ter para nos “proteger” do que as relações nos causam são inglórias. Sozinhos não existimos. Não crescemos. Somos como as sementes dentro da terra que precisam da relação com o peso do solo, e todos os seus constituintes, a água, o ar, os animais, para poder ter força para crescer e relacionar-se com a luz do sol. Sofia Batalha diz que: “A co-regulação é um termo utilizado em psicologia, que descreve genericamente a interação de cada participante que regula repetidamente o comportamento do outro. Trata-se de um processo vibrante, contínuo e dinâmico de regulação das necessidades do corpo e do sistema nervoso, e não uma troca de informações superficiais ou finais. (…) Entre os fluxos orgânicos de reunir e dispersar, pela interocepção como ponte à co-regulação, viajamos inevitavelmente através tensão e desconforto até ao encantamento e presença visceral. Fazemos parte de um processo vivo e não de uma forçada conclusão de calma e estabilidade. Exatamente porque co-regulação não é acalmar, mas relação!(...)”
Patologizamos as emoções que não nos são agradáveis. Patologizamos as pessoas que nos recordam que temos essas emoções dentro de nós. Patologizamos a doença, além da doença, que nos recorda que somos vulneráveis e co-dependentes.
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