O Luto é um movimento de desconstrução. Decomposição. Dissolução. Putrefação. Aproximação do chão. Rendição. Rotura. Pausa. Engenho da mudança que a consciência Divina aclama dentro de nós. Somos coroados com o espírito da metamorfose constante. E apenas por isto estamos vivos. Só através do crescimento da raiz podemos subir em direção ao sol.
Procurar fugir aos lutos, à mudança, às emoções emergentes da mudança, ao espaço das dores de crescimento, é apodrecer o apodrecimento, permanecendo aí. Em vez de nos conduzirmos em direção a mais plenitude, a mais vida, fazemos o caminho inverso. O chão é um período, espaço de colo e crescimento, de força, que nos impele a subir às nuvens. A libertar-nos ao espaço da luz. Não a ficar no chão. Fugir ao luto é ficar no chão. É ficar para sempre dentro do útero da nossa mãe.
Em todos os processos de decomposição, que podemos ver acontecer na nossa cozinha, por exemplo, ao contrário do que normoticamente e obtusamente, o nosso olhar nos leva a pensar, existe uma imensidão de vida. Presta atenção. O processo de putrefação de uma peça de fruta é amplificador de uma imensidão de seres que nela habitam. O facto de não a podermos comer não invalida a lei da existência, que vai para além do humano.
Quando não nos permitimos caminhar o luto entorpecemos, anestesiamos, a nossa vida. Impedimo-nos a ser transformados por aquilo que a consciência Maior aclama em nós. Impedimo-nos de aprender e crescer.
Eu sou um movimento contínuo e ininterrupto. As mudanças podem ser subtis ou estrondosas. Depende da minha abertura à mudança, do espaço e tempo que dedico aos meus lutos, e do encontro.
Yongey Rinponche, no seu livro amar o mundo diz que “Durante a vida presente somos o bardo da mudança, da transição, da impermanência. Entre um novo começo e um novo fim, estamos no intermédio. O estado transitório é a nossa verdadeira casa. Estamos maioritariamente num estado de não saber e de incerteza. É esta a natureza da existência. Ficamos ansiosos por ter deixado a nossa zona de conforto e não ter chegado a nada de concreto e material. A imatéria assusta-nos. Mas são as passagens e a impermanência que permeiam a nossa vida.”
Somos um encontro entre um óvulo e espermatozoide com todas as divisões celulares subsequentes. O “primeiro” óvulo e “primeiro” espermatozoide deixam de ser para ser….e voltar a ser...ininterruptamente.
O que já te impediste de ser ao não te permitires a navegar os teus lutos?
Comments