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Foto do escritorDoulas do Fim da Vida

Natal como Encontro - 2 - Os Vínculos e a percepção de Segurança



No seguimento da reflexão sobre o Natal como Encontro, quero trazer-vos outra reflexão sobre a importância dos vínculos e da percepção de segurança que eles nos trazem ou não.


Para podermos fazer as descidas ao interior da nossa psique, da nossa terra, da nossa interioridade, “adentrarmo-nos”, e caminharmos as travessias e passagens que a vida nos convida a fazer. Para caminharmos as nossas mortes, largarmos a nossa pele, já muitas vezes desabitada pela alma e à qual ainda nos agarramos por ser o que conhecemos, precisamos de nos sentir seguros. Precisamos abrandar, relaxar, descansar, encontrar-nos vulneráveis, e não há forma de o fazermos sem sentirmos que temos colo, chão Seguro. Qualquer animal selvagem sabe intuitivamente como o fazer. E em nós também habita este espaço, muitas vezes ignorado e com uma carga de iliteracia imensa. Se o Natal é Encontro entre Luz e Sombra, entre o morrer e o nascer, este colo, esta âncora e espaço seguro é fundamental existir. Um sistema nervoso ativado no seu simpático quer fugir, dissociar, congelar, lutar. Encontrar espaço para que o parassimpático possa entrar e desenvolver o músculo que nos irá permitir descarregar todas as tensões, num fluxo entre um e outro (porque ambos são ferramentas preciosas da nossa vida, do nosso corpo) é fundamental.


Quando nos encontramos nesta altura do ano, memórias podem ser ativadas, algumas conscientes, outras nem por isso. Mas, apesar de muitas, diria, serem inconscientes não quer dizer que o corpo não as recorde. Ele lembra-se de tudo e manifesta esse mesmo Tudo, quer queiramos ou não. Espaços / encontros da nossa infância que eram espaços seguros também podiam ser espaços de muita insegurança. Mais uma vez o paradoxo. Parece um pouco esquizofrénico e muitas vezes é desta forma que o nosso corpo se sente. Vínculos, supostamente, seguros também podem trazer-nos muita insegurança. Espaços onde não havia respeito pelos nossos limites, onde não havia limites, onde não havia apreço pelas nossas emoções, pelo nosso espaço de pausa e silêncios, pelo reconhecimento e compreensão da nossa essência singular, onde não havia espaço para comunicação autêntica e vulnerável, onde não havia empatia, podem ativar hoje, em nós, estes mesmos gatilhos. Se o Natal é Encontro como é que eu me posso Encontrar numa relação, seja ela qual for, inclusivamente e principalmente nas minhas mortes, se na vulnerabilidade, no encontro com a minha essência, no encontro com o que sinto, eu não me sinto Seguro? Quero doar-me à Vida mas não consigo relaxar plenamente. “Um olho está fechado e outro aberto”, numa desconfiança exaustiva, onde muitas vezes as palavras não encontram espaço para explicações. Então finjo, fujo, luto, engulo as minhas palavras e as minhas emoções. Encontro-me desencontrado de mim, fingindo ser quem não sou. Um Natal desencontrado de mim próprio. Uma oportunidade de morte que se mantém na morte e não renasce. A Luz, a minha Luz, que não consigo encontrar, por medo de adentrar.


Que possamos aprender a estabelecer em nós mesmos um espaço seguro para que possamos ser um espaço seguro uns para os outros, com respeito pela individualidade e expressão da essência de cada um. Que possamos aprender a ser recurso em nós para ser um recurso na relação com o outro. Que possamos aprender a ser Natal.






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