Sem eu saber quem sou, o que sinto, no que as relações me trazem sobre mim própria, nos limites interiores do meu corpo somático, da minha pele, não irei conseguir desenvolver o espaço de segurança interior necessário para semear e regar as sementes da compaixão.
Vivemos num mundo de relações onde o ar que expiramos toca no outro que o inspira, tenhamos consciência disso ou não. Vivemos numa rede relacional incomensurável, com imensos seres. Comemos outros seres e iremos ser comidos, quer queiramos ou não. Nesta osmose relacional onde se enquadram os limites?
Quando falamos de limites pressupomos que é sobre levantar muros e barreiras, dentro de nós, para nos podermos proteger de algo e/ou alguma coisa. Entendemos que é separar, dividir. Não é de todo assim. Este é um entendimento normótico e capitalista que nos afasta das relações em vez de as semearmos com carinho, respeito e consideração pela importância do nosso espaço e o do outro. Na ausência desta distinção do que somos e do que o outro é não há verdadeira relação. Há fusão, contágio emocional, invasão de espaços, o tocar de feridas comuns que ardem em destruição, sobreposição de essências diferentes que se acabam por tornar nocivas. Se as raízes de uma flor invadem as raízes de outra flor ambas deixam de existir.
O limite tem o dom de respeitar a importância da relação. Tem o dom de respeitar a importância da essência de cada um e da qualidade do que cada um trás de si próprio à relação, ou não trás. Trás a qualidade e raízes que nós queremos estabelecer em nós e com os outros. Chão firme. Nutrição. Espaço seguro. Lugar para crescer. Aprender. É membrana porosa. Não é barreira fechada. Sinto o outro em mim mas não deixo de ser eu, e vice versa. O limite é uma troca porosa nutritiva que não assalta nenhuma das partes envolvidas.
Toco-te. Abraço-te. Sou tocada e abraçada. Sinto-te. Sou sentida. Vejo-te e testemunho-te. Sou testemunhada.
Os limites des-iludem-nos a conseguirmos olhar a realidade, nossa e do outro, na verdade do que É. E só aqui se semeia o Amor e a Compaixão.
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